O ministro da Agricultura Pratini de Moraes entrou para a audiência com Ann Veneman, secretária de Agricultura dos Estados Unidos, para ouvir, mas também para falar, segundo reportagem de Paulo Moreira Leite, publicada hoje na Gazeta Mercantil. Pratini citou números e deu explicações e quando saiu, após 50 minutos, estava convencido de que o conflito econômico com o Canadá pode ser longo e dramático, mas que com os EUA, não haveria guerra. O ponto econômico da suspensão de compra de carne brasileira pelos parceiros do Nafta é que as vendas para o Canadá envolvem a humilde soma de US$ 5 milhões e, para os EUA, US$ 120 milhões. Entre 1998 e 2000 as vendas brasileiras de carne enlatada nos EUA ficaram entre 20% e 30% do mercado de importados, em concorrência direta com a Argentina e o próprio Canadá. Já as vendas para o México somam US$ 34 mil.
Na conversa com Veneman, Pratini ficou sabendo que a carne brasileira não será recolhida dos supermercados – sinal dramático que apontaria para um conflito mais grave. De olho no aspecto econômico, Pratini disse à ministra que gostaria que ela reduzisse o prazo marcado para encerrar suas análises sobre a carne brasileira, condição para o embargo ser arquivado. Falava-se em espera entre seis e oito semanas e a secretária disse que será bem menor.
Pratini acentuou o caráter político da atitude canadense, e disse que o governo americano só suspendeu as importações brasileiras “por solicitação” do governo canadense uma vez que, ao contrário do que se imagina, o Nafta não obriga ninguém a se solidarizar com os demais parceiros.
Em Washington, Pratini entregou um conjunto de documentos, a que a imprensa não teve acesso, mas o ministro conta que ali faz o balanço das importações de gado, lembrando que a última compra da Inglaterra ocorreu em 1990 e que as compras na Europa estão suspensas desde 1996. Também recorda que o Brasil se declarou livre da síndrome em 1997 – o que nunca foi contestado por organismos internacionais competentes. Além disso, informou que a farinha animal, pela qual a síndrome é transmitida, no Brasil só é dada a cachorros, gatos e peixes.
O ministro lembrou que no Canadá já ocorreu um caso da doença, no Brasil, não e comentou ser “esta a primeira vez na história do comércio internacional em que uma importação é suspensa em função de um risco teórico”. E é porque acha isso muito estranho que Pratini acredita que os EUA não vão sustentar o embargo por muito tempo.
Por Paulo Moreira Leite, para Gazeta Mercantil, 06/02/01