Na região sul de Minas Gerais, principalmente em fazendas de produção de leite, a técnica de conservação de forragens na forma de feno vem sendo cada vez mais utilizada pelos pecuaristas e, entre as espécies forrageiras mais empregadas para esta prática, destacam-se as gramíneas do gênero Cynodon, em função de serem forrageiras que se adaptam ao clima tropical e subtropical, com alto potencial produtivo e excelente aceitabilidade pelos animais.
Em inúmeras outras regiões do Brasil, principalmente no Estado de São Paulo e Paraná, também há um grande número de fazendas que vem utilizando o gênero Cynodon (Coast-cross, tifton, estrelas, etc.) para produção de leite e carne a pasto com excelentes resultados de produção, criando-se alternativas, em conjunto com outras gramíneas dos gêneros Panicum (Capins Colonião, Tobiatã, Mombaça, etc.), Brachiaria (capim braquiarão) Pennisetum (capim elefante – Napier, Guaçu, etc.).
Todas as vezes em que há uma intensificação de produção das plantas forrageiras com a introdução de fertilizantes para aumento da produtividade de carne e leite, é imprescindível que toda forragem produzida seja aproveitada, preferencialmente pelo consumo direto dos animais, ou indiretamente pela conservação nas formas de silagem e feno.
Em função da ocorrência de chuvas, falta de ventos ou umidade relativa alta, algumas vezes a produção de feno é prejudicada, o que torna a conservação na forma de silagem uma alternativa atraente. Acredita-se que, com a adoção desta estratégia de manejo para as pastagens ou campos de feno, evita-se a presença de forragem envelhecida e aumenta-se a quantidade de alimento volumoso de boa qualidade para ser fornecido ao rebanho na época seca. Segundo um grande número de autores, gramíneas do gênero Cynodon, quando ensiladas de forma correta, resultam em silagens de bom valor nutritivo. Que devido aos baixos custos, competem com as silagens de alta qualdiade como as silagens de milho.
Uma característica da forrageira que deve ser considerada é a rapidez na perda de umidade, quando submetida ao emurchecimento. Considerando que é comum, na época ideal de corte das forrageiras, um dia ou apenas algumas horas de céu aberto seguidos de dias chuvosos consecutivos, esta característica se traduz em substancial vantagem.
Os principais entraves das gramíneas tropicais como espécies para serem ensiladas se referem ao seu alto poder tampão dentro do silo, o baixo teor de matéria seca e o baixo nível de carboidratos solúveis no momento do corte. O baixo teor de matéria seca (abaixo de 28%) concorre para dificultar a conservação e diminuir a qualidade da silagem, proporcionando condições para o desenvolvimento de microrganismos indesejáveis como fungos, leveduras e bactérias do gênero Clostridium produtoras de ácido butírico. O elevado poder tampão dificulta o abaixamento do pH da massa ensilada, potencializando o efeito dos microrganismos indesejáveis sobre a estabilidade da silagem. O baixo teor de carboidratos solúveis é insuficiente para produção de níveis adequados de ácido lático, que é o principal ácido orgânico de silagens de boa qualidade e valor nutritivo.
Com o intuito de elevar o teor de matéria seca dos capins para ensilagem, pode-se utilizar o emurchecimento, que é uma prática vantajosa pelos benefícios que proporciona à fermentação, conservação, diminuição de perdas por drenagem no silo e, principalmente, no consumo de matéria seca pelos animais. Pode-se, também, adicionar à silagem outros materiais com elevado teor de matéria seca, porém esta prática aumenta os custos da silagem. Com relação aos carboidratos solúveis, seu aumento pode ser conseguido adicionado melaço, cana-de-açúcar, entre outros.
O experimento relatado a seguir teve o objetivo de avaliar o emurchecimento e a adição de polpa cítrica na produção de silagem de capim estrela roxa. O capim foi cortado com 45 dias de crescimento, com segadeira mecânica, submetida a diferentes tempos de emurchecimento, originando os seguintes tratamentos:
1. ensilagem imediatamente após o corte;
2. ensilagem imediatamente após o corte com adição de 4% de polpa cítrica;
3. ensilagem após emurchecimento por uma hora;
4. ensilagem após emurchecimento por uma hora com adição de 4% de polpa cítrica;
5. ensilagem após emurchecimento por duas horas;
6. ensilagem após emurchecimento por duas horas com adição de 4% de polpa cítrica;
7. ensilagem após emurchecimento por três horas;
8. ensialgem após emurchecimento por três horas com adição de 4% de polpa cítrica.
A gramínea enleirada com a utilização de um ancinho mecânico e foi recolhida e picada por uma máquina JF-90Z equipada com KIT R-90. Utilizaram-se silos de superfície com dimensões de 2,5 x 2,5 x 0,7 m de altura, sendo a compactação realizada por um trator enquanto o silo estava sendo preenchido. Após enchimento e compactação, vedou-se os silos com lona plástica, cobriu-se com terra e fez-se a abertura dos mesmos 35 dias após.
Tabela 1 – Efeito do tempo de emurchecimento e da adição de polpa cítrica no teor de matéria seca (MS), valor de pH e teor de proteína bruta (PB) da silagem de estrela roxa.
Tabela 2 – Características químicas de algumas outras forrageiras tropicais e de suas silagens para comparação com os resultados obtidos pelos autores acima.
Comentário BeefPoint: Embora seria mais correto utilizar parâmetros como o nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total (N-NH3), nitrogênio retido na fibra em detergente ácido (NIDA) ácidos orgânicos e avaliar as perdas, além do pH, conforme dados apresentados na tabela 2 para outras gramíneas tropicais, os autores concluíram com base no pH que todos os resultados foram satisfatórios e tanto a adição de polpa cítrica como o emurchecimento serem técnicas possíveis de serem utilizadas. O uso ou não de emurchecimento e de polpa cítrica para produção de silagem de capim estrela roxo com as caracteríticas de composição do utilizado no presente experimento, estaria mais relacionado a atingir objetivos específicos como diminuir a quantidade de água transportada nas formas de forragem verde ou de silagem, aumentar a ingestão de matéria seca e ou valor quando a silagem for o alimento predominante, tentar diminuir as perdas por efluentes, etc, do que para obter silagens com boas careacterísticas fermentativas. O que é importante sempre ter em mente é que, independente da qualidade intrínsica da silagem obtida, se faz necessário a obrigatoriedade de aproveitamento de toda forragem produzida em sistemas de produção de feno ou pastagens para produção de carne ou leite, buscando-se sempre custos baixos por quilo de leite ou carne produzido.
Bibliografia
EVANGELISTA, A. R. et al. Avaliação de algumas características da silagem e gramínea estrela roxa (Cynodon nlemfuensis Vanderyst). Ver. Bra. Zootec., 29(4): 941-946, 2000 e OLIVEIRA, R. L. & NASCIMENTO, D. Silagem de gramíneas tropicais. Trabalho apresentado como parte das exigências da disciplina ZOO650- Forragicultura, 1997, 17 páginas, Viçosa. (www.ufv.br/DZO/forragem/silagem.htm).