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Sobretaxa divide setor coureiro

Se por um lado a política do governo federal de sobretaxação do couro “wet blue” (semi-acabado) para a exportação, que vigora desde janeiro, tem repercutido positivamente para os curtumes e produtores de peles, representantes das indústrias nacionais de calçados e acessórios observam que a medida não atendeu às expectativas já que esperava-se o aumento da oferta e a queda de preços da matéria prima em seu estágio primário. É o que informa reportagem de Virna Campos, publicada hoje na Gazeta Mercantil.

A sobretaxa na exportação do “wet blue”, estabelecida em 9%, surgiu com a finalidade de equiparar o preço do produto final nacional ao praticado pelos países importadores da matéria-prima brasileira, com destaque para o mercado europeu. A entrada da matéria-prima brasileira nos países importadores é sobretaxada em 7% o que gera, segundo empresários do setor calçadista, uma desvantagem comercial para a indústria nacional.

Para José Roberto Scarabel, presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), a estimativa de muitos proprietários de curtumes, antes da implantação da sobretaxa, era de que a medida poderia acarretar um recuo de negócios no mercado internacional. Com a adoção da política de sobretaxa, porém, as exportações do couro em estágio primário para a Europa registraram crescimento em janeiro deste ano de 24%.

Em janeiro de 2000 foram exportados US$ 52,993 milhões contra os US$ 65,611 mil registrados no mesmo período este ano. A expectativa é de alcançar neste ano um patamar entre 25% e 30% de crescimento do setor. No total as exportações de “wet blue”, em 2000 somaram US$ 760 milhões. “Nossa posição sempre foi favorável à adoção deste imposto, pois vemos o momento como oportuno devido à melhora progressiva na qualidade do couro e a falta dessa matéria-prima no comércio mundial”, situa.
Embora não existam dados quanto a real demanda, José Roberto informa que no ano passado o mercado brasileiro exportou 10.391.195 peças de peles “wet blue”. Desse total, 65% destinam-se a indústrias de estofamentos.

“A General Motors fez um estudo em que constatou que se fosse colocado couro em todos os estofados de seus veículos não haveria oferta de couro suficiente para suprir esta demanda no mundo”, ressalta. Na avaliação do empresário, outro fator importante que propiciou o aumento dos negócios foi a valorização do produto nacional. “Com esta polêmica da vaca louca, o Brasil acabou por desenvolver um marketing internacional de nossa produção. Possuímos atualmente três certificados de qualidade de gado emitidos pelo Canadá, Estados Unidos e pelo México”. O preço do couro “wet blue” para exportação está em US$ 41 a peça (o correspondente a pele de um boi) enquanto o couro acabado custa em média US$ 90.
“Precisamos manter um equilíbrio e a sobretaxa nos permitirá equalizar este mercado”, conclui.

Para os calçadistas, além de não ter acontecido o aumento da oferta conforme o esperado, houve acréscimo de 10% no preço do couro. Getúlio Guimarães, vice-presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Minas Gerais, observa que até o momento não houve nenhuma sinalização de melhoria com a sobretaxa.

Segundo informa o vice-presidente, o segmento calçadista registrou crescimento de 5% na receita do ano passado em relação ao ano anterior. A expectativa para este ano é atingir entre 10% e 15% de crescimento. “Ainda é cedo para avaliar, mas creio que este aquecimento não acontecerá como prevemos, a menos que surja um fato novo neste mercado”, diz.
Como alternativa, ele avalia que devem ser estabelecidos outros índices para a sobretaxa. “Se o mercado europeu reagiu bem aos 9% é sinal de que podemos ampliar para até quem sabe 15% a 20%” aposta.
Estudos dos sindicatos das indústrias dos dois segmentos demonstram a existência de cerca de 19,3 milhões de cabeças de gado no Estado, o que representa 13% do rebanho brasileiro, com concentração nas regiões do Triângulo, Sul e Zona Metalúrgica de Minas. Desse total a população bovina do Triângulo ocupa uma fatia de 19,25% o Sul de Minas abarca 11,38%, e a zona Metalúrgica 11,12%. A estimativa no Brasil para este ano de 2001 é de 32 milhões de cabeças.

“Tentamos com a sobretaxa mostrar ao governo que quanto mais industrializarmos e não simplesmente exportar a matéria prima com facilidades tributárias poderemos obter um aumento de receita do setor, pois nesses casos tem-se mais valores agregados ao produto, mas isso, infelizmente, não está sendo assimilado desta forma”, avalia Getúlio Guimarães. Para março o setor está organizando a realização da 17a Minas Calçados, feira de comercialização de calçados e acessórios que reunirá 150 expositores.

(Por Virna Campos, para Gazeta Mercantil, 05/03/01 )

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