Ed Hoffmann Madureira
No Brasil, a época predominante dos partos em bovinos de corte situa-se entre agosto e outubro, sendo os bezerros desmamados, na grande maioria, em Maio. Após a desmama, as vacas que por algum motivo não se enquadrem nas características produtivas do rebanho são destinadas ao abate, necessitando de cerca de quatro meses para atingir o peso e a condição corporal apropriados.
Se as fêmeas descarte emprenharem após o parto, a gestação estará em um estágio avançado no momento do abate, podendo levar a uma eventual condenação da carcaça, prejudicando assim o manejo de produção de carne. Com isso, acaba ocorrendo o retardamento do abate para o ano seguinte, mantendo-se um animal ineficiente no plantel, com a obtenção de um bezerro abaixo do padrão. Nos casos em que o descarte seja em virtude de idade avançada, há o risco de morte do animal, com um prejuízo econômico considerável.
Para evitar a prenhez após o parto, a conduta mais comum nas fazendas de produção extensiva de gado de corte do Brasil é a manutenção das fêmeas destinadas ao abate em pastos sem touros. Entretanto, esta separação normalmente não costuma ser muito efetiva. Além disso, a divisão do rebanho em grupos de animais relativamente pequenos requer infra-estrutura adicional no que tange a manejo de pastagens, mão-de-obra e transporte entre outros, acarretando incremento dos custos de produção.
Existem técnicas de prevenção da concepção, como os métodos cirúrgicos (castração de fêmeas) e os métodos contraceptivos, mecânicos ou hormonais. Estas técnicas são bastante utilizadas em países desenvolvidos, e podem ser facilmente incorporadas pelos criadores brasileiros. A seguir, faremos uma abordagem das mesmas.
Estratégias contraceptivas disponíveis
Para prevenir a prenhez em fêmeas bovinas podem ser empregadas técnicas cirúrgicas ou não cirúrgicas. As técnicas cirúrgicas incluem ovariectomia paralombar, trasvaginal e pelo método de Willis. As técnicas não cirúrgicas consistem na aplicação de dispositivos intra-uterinos ou em tratamentos hormonais.
A ovariectomia paralombar costuma ser feita em novilhas jovens, configurando-se em um processo cirúrgico bastante invasivo, efetuando-se a incisão da musculatura para exposição dos ovários e excisão dos mesmos. Esse procedimento em condições típicas de produção extensiva de gado de corte, além das complicações cirúrgicas que podem advir, pode representar perdas por mortalidade e morbidade no pós-cirúrgico.
A castração pelo método de Willis é feita por instrumento que atravessa a parede vaginal e atinge a cavidade pélvica. Os ovários, localizados pela palpação retal, são introduzidos na “cabeça” do instrumento, cortados e deixados na cavidade abdominal. Dos métodos cirúrgicos utilizados para ovariectomia, o método de Willis é considerado o mais eficiente, por ser menos invasivo.
Dentre as técnicas não cirúrgicas, podemos citar o “Produan bovine intra-uterine device (bIUD)”, que consiste em um dispositivo intra-uterino que previne a concepção. Todavia, este sistema requer técnica e experiência para a aplicação e a sua eficácia em produção extensiva de gado de corte ainda não foi estabelecida.
Os tratamentos hormonais previnem o crescimento folicular e a ovulação sem necessidade de remoção ou destruição dos ovários. Progestágenos orais, como o acetato de melengestrol são bastante utilizados para este fim. Entretanto, seu uso no Brasil não está regulamentado. Implantes auriculares com altas concentrações de norgestomet também se mostram aptos para inibir o pico pré-ovulatório de LH por um período de tempo relativamente longo.
Uma nova tecnologia hormonal que vem sendo proposta para a prevenção de prenhez em fêmeas bovinas é o uso de implantes com deslorelina, um super-agonista do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH). Estudos prévios em sistemas de produção extensiva no norte da Austrália mostraram que esses implantes podem prevenir a prenhez de novilhas e vacas por um período de aproximadamente 12 meses (D´Occhio et al., 2001). Um fator importante em relação ao uso deste hormônio é a praticidade da sua aplicação, implantado na orelha do animal por uma técnica padrão de aplicação, podendo ser administrado por funcionários e produtores, já que não requer experiência técnica alguma. Além disso, a fertilidade pode ser reestabelecida, se necessário, após a remoção do implante. Por tratar-se de um hormônio protéico, não deixa resíduos na carne.
Implicações
O uso de técnicas contraceptivas deve ser encarado como uma ferramenta bastante importante nas fazendas em que se objetive a maximização da produtividade. Entretanto, seu uso é bastante restrito no Brasil, fazendo-se necessária a obtenção de resultados que possam embasá-las de um ponto de vista técnico e econômico. Em um experimento, coordenado pela pós-graduanda Daniela Paes de Almeida Ferreira Braga, da Central Queensland University-Austrália, em convênio com a Universidade de São Paulo, será efetuada a comparação entre o uso de implantes de deslorelina, o método cirúrgico (técnica de Willis) e o simples isolamento das fêmeas, avaliando-se variáveis como ganho de peso, rendimento de carcaça e custo econômico. Este experimento já se encontra delineado e está em fase de implementação, em uma fazenda no Mato Grosso do Sul, e poderá trazer conclusões muito importantes com respeito ao uso destas técnicas no sistema de produção brasileiro.
Referências bibliográficas
D´OCCHIO M.J, FORDYCE G., WHYTE, TR., JUBB TF, FITZPATRICK LA, COOPER NJ, ASPDEN WJ, BOLAM MJ AND TRIGG TE (2001) Use of GnRH agonist bioimplant for the long-term supression of fertility in extensive menajed heifers and cows. Animal Reproduction Science, in press.
FORDYCE G, JUBB TF, FITZPATRICK LA, WHITE TR, COOPER NJ, BOLAMMJ, HADDAON DJ, HILL F AND D´OCCHIO MJ (2001) Efficacy of an intra-uterine device in reproductive management of Brahman cattle. Animal Reproduction Science, in press.
Colaboradores: Francisco Barufi e Daniela Braga