Controle de estoque
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Vantagens econômicas da utilização em larga escala de touros geneticamente avaliados – Parte 3/3

José Bento S. Ferraz

Concluindo nosso artigo, apresentamos quais seriam os ganhos indiretos de um programa de uso intensivo de touros geneticamente avaliados e apresentamos uma proposta de implementação de um programa destinado a promover essa intensificação de uso de material genético melhorador.

Os ganhos indiretos

Os maiores ganhos advindos do uso da inseminação artificial com touros geneticamente superiores, no entanto, não são obtidos de maneira direta. Para utilizar-se de tal tecnologia, um pecuarista tem que se estruturar em termos de alimentação e nutrição, pastagens e saúde animal, organização e escrituração zootécnica, além de informar-se e formar adequadamente seu pessoal.
Isto eleva de maneira muito significativa o nível do rebanho, que passa a poder expressar de maneira mais adequada seu potencial genético. A diminuição das perdas por doenças clínicas e subclínicas, subalimentação e uso inadequado de tecnologia são muito difíceis de serem medidas, mas podem ser feitas algumas simulações, como as apresentadas no Quadro I. Atingir as metas propostas no Quadro I não colocaria nossa pecuária no nível das mais desenvolvidas, mas elevaria o patamar tecnológico e teria profundos resultados econômicos e de produtividade, com alteração expressiva das condições gerais do agribusiness da pecuária de corte.

Figura 1

Os números demonstrados no Quadro I são extremamente altos, mas expressam a realidade. Esses números devem ser ainda maiores, ao avaliarem-se os ganhos secundários, obtidos com melhoria da qualidade de mão-de-obra e outros ganhos advindos com mudança do patamar tecnológico. Atingir 50% das metas descritas naquele Quadro significaria um incremento de cerca de US$ 6 bilhões na produção de carne, enquanto o sucesso em 100% das metas significaria um aumento de produção de cerca de US$12 bilhões.

A indústria de processamento e comercialização de sêmen agregaria ao seu faturamento cerca de US$120 milhões, a indústria de acessórios e suprimentos para inseminação quintuplicaria suas receitas, haveria um grande aumento nas vendas de insumos, medicamentos e vacinas. O produtor teria seus custos compensados pelo aumento de produtividade. O governo teria enorme aumento de arrecadação de impostos e poderia também colaborar para a diminuição de preços e custos com redução das alíquotas de impostos, tornando os produtos mais baratos e acessíveis e ajudando a absorver a produção.

É importante lembrar que a simples elevação de 1 kg no consumo per capita de carne eleva o consumo total em 160 mil t/ano, quantidade que seria adicionada à produção nacional pelo ganho genético observado com um aumento da utilização de 200% da inseminação artificial em relação à usada hoje. Isto mostra que o mercado interno pode, com facilidade, absorver a produção que seria acrescida.

Um programa para se atingir as metas

Como atingir as metas, sem a ajuda do poder público? Como financiar um programa desses?

Antes de mais nada, seria essencial que as empresas de inseminação artificial investissem de maneira expressiva na aquisição de touros geneticamente avaliados, em detrimento daqueles que simplesmente foram bem classificados em exposições zootécnicas. Isto é perfeitamente possível, pois o Brasil já conta com importantes programas, oficiais e privados, de avaliação genética de bovinos de corte.

A única maneira das metas de aumento da produtividade serem atingidas, diretamente com o aumento do uso de inseminação artificial e indiretamente com a mudança de patamar tecnológico, oriundo dessa utilização, seria uma maciça assistência técnica e difusão da biotecnologia da inseminação artificial em todos os municípios de pecuária expressiva do país. Os recursos necessários para implementação de um programa desta abrangência deveriam vir dos próprios pecuaristas. Suponhamos que cada kg de carne contribuísse com US$0.03 para um fundo, gerido pelos próprios pecuaristas. Com as produções atuais, tal fundo teria uma receita de cerca de US$170 milhões oriundos da produção de carne aos níveis de produção de hoje.

Um programa gerido por este fundo, contratanto 1.000 profissionais de nível superior e 1.000 técnicos agrícolas, com salários médios de, respectivamente, US$1,500.00 e US$700.00, teria um custo anual de cerca de US$50 milhões em salários e encargos, mais outros US$50 milhões em diárias e despesas de viagem, mais uns US$ 30 milhões de despesas administrativas. Restariam ainda outros US$40 milhões para serem aplicados em pesquisa e solução dos problemas da pecuária.

Considerações finais

O uso da inseminação artificial em larga escala traz enormes benefícios, diretos e indiretos, à pecuária de corte do Brasil. No entanto, para um expressivo aumento do uso desta biotecnologia, seria necessário implementar um grande e corajoso programa de difusão tecnológica e educação do homem do campo, em todas as regiões de pecuária do país.

Conseguiriam profissionais envolvidos atingir as metas propostas pelo programa? Seria demais supor que cada um deles poderia aumentar o número de inseminações artificiais do país em cerca de 5.000 unidades/ano? E o poder multiplicador que esses técnicos teriam? E os milhares de inseminadores que seriam treinados, muitos deles montando pequenas empresas de prestação de serviços, sendo remunerados diretamente pelos produtores e pelos fornecedores de produtos e insumos?

A mudança de patamar tecnológico e de competitividade de nossa pecuária exige mudança de hábitos, conhecimento, mudanças de manejo, sanidade, alimentação e de patrimônio genético dos animais. Isto só poderá ocorrer de maneira rápida com o uso rápido e intenso de material genético de alta qualidade através da inseminação artificial.
O correto eqüacionamento do problema exige vontade política, poder e capacidade de coordenação, esforço conjunto de todos os segmentos da economia envolvidos e muito trabalho. Embora as metas sejam absolutamente exeqüíveis, elas só podem ser atingidas com o envolvimento direto dos interessados.

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