Diferentemente do ocorrido na virada de 1999/2000, quando grande parte dos insumos para a pecuária de haviam aumentado causando grande impacto nos custos de produção, o ano de 2000 transcorreu com poucas alterações médias nesses mesmos insumos, impactando menos os custos, deixando uma expectativa de margem para o pecuarista.
Os aumentos nos preços dos insumos, ocorrido em 1999, se fez sentir apenas em 2000.
Ou seja, os aumentos ocorridos em 1999 foram incorporados economicamente naquele ano. No entanto, como é de costume analisar o custo linearmente por animal, e não como um todo na propriedade, o produtor só sentiu este aumento no decorrer de 2000, que foi quando precisou colocar a mão no bolso e perceber a dimensão do aumento nas despesas, relatado em análises do ano anterior.
Explicando melhor, no início de 1999 houve a maxidesvalorização do real aumentando todos os custos de insumos agrícolas (fertilizante, herbicidas, inseticidas, etc), porém, como o produtor na maioria dos casos, já havia comprado estes insumos, só veio a perceber o aumento no final de 1999, com resultados agravantes em 2000.
Com relação aos alimentos, os excelentes resultados no confinamento de 1999, pelo menos para quem conseguiu manter bois no cocho até o mês de outubro em diante, fez com aumentasse a intenção de confinar. A explosão da intenção em confinar pode ser observada pelo aumento da demanda por serviços de confinamentos de aluguel, que trabalharam a plena capacidade a partir dos primeiros meses de escassez de pasto ( maio e junho, mais especificamente). O otimismo com relação ao preço da arroba na entressafra fez com que os contratos de confinamentos de aluguéis fossem fechados a R$2,00 a R$2,10 por dia por cabeça. O mínimo contratado, em termos de número de dias, foi por volta de 70 dias.
Neste caso, com diária a dois reais, o custo da arroba engordada foi de R$51,80, com o ganho de 1 kg de peso vivo por e , até R$48,28 caso o boi ganhasse 1,2 kg em média, por dia.
Para a diária a R$2,10, chegou-se a confinar bois com custo de alimentação por arroba engordada a R$60,00.
Para efeito de comparação, em 2000, os custos para confinamentos calculados e recomendados pela Scot Consultoria ficaram em torno de R$34,00/arroba engordada (apenas alimentação), o que no total (alimentação, animal, medicamentos, estrutura e operação) chegava a R$39,00.
Essa situação sugere que os contratos dos confinamentos de aluguel sejam revistos e que retornem à forma que era no início, onde o produtor era dono do boi no peso em que foi colocado no confinamento e o confinador era dono das arrobas ganhas no cocho. O pecuarista ganharia com a valorização do valor da arroba, sem custo de pasto, enquanto o confinador ganharia com sua eficiência na produção de alimentos e manejo da dieta, sem ter que imobilizar capital em boi.
Os confinamentos de aluguel, que fecharam o ano de 1999 com chave de ouro, podem ter se tornado, involuntariamente, o grande vilão para muitos pecuaristas no ano de 2000.
Ainda falando de confinamento, como sempre ocorre, não é unânime a quantidade de animais confinados no Brasil. A verdade é que os números não são exatos, pois não há pesquisa no campo que possa determinar, nem mesmo grosseiramente quantos animais foram para o cocho.
Acreditava-se que em 2000 o número de animais confinados aumentaria consideravelmente, dado os resultados de 1999. O fato pode seria comprovado pela procura por aluguéis.
Porém, nas fazendas, com a seca “castigadora” de dois anos seguidos e a lucratividade do confinamento sendo percebida apenas a partir de final de outubro de 99, poucos tiveram chance de planejar um confinamento para o ano seguinte. O problema foi o volumoso e não o concentrado. A menor produção nas propriedades, tanto de corte como de leite, gerou um aumento na demanda por alimentos volumosos facilmente transportados, como o feno, por exemplo.
O desequilíbrio entre oferta e demanda por volumoso pode ser comprovado pelo aumento do preço do feno de gramíneas durante o ano 2000, em torno de 100%, em média, atingindo até 166% em alguns casos. No mesmo período considerado, o aumento de custos de produção do feno foi de 30 a 35%.
Temeu-se, até certo ponto, que o maior número de animais confinados, desestimulassem os investimentos em função da provável queda de preços no segundo semestre por excesso de animais de cocho.
Os preços não caíram no segundo semestre, porém não atingiram as expectativas dos produtores. Em média os preços no segundo semestre foram 6,8% superiores, nominalmente, comparados com o primeiro semestre de 2000.
A tabela 1, relaciona a cotação mensal mínima com a média do segundo semestre nos últimos anos e evidencia que o preço do boi se manteve firme durante o transcorrer de 2000.
Tabela 1: Relação entre o menor preço e o preço médio do segundo semestre por ano
Observe que, caso houvesse um excesso de animais confinados, ocorreria uma desova de boi ampliando a diferença entre preço médio e mínimo nas cotações. Em 1999, quando houve uma desova evidente em agosto, com o aumento nos custos dos concentrados e pouca expectativa de bons preços, a diferença nas cotações mínimas e médias é (em %) mais de dez vezes superior à de 2000.
Em um cenário como no fim de 2000, com o mercado atacadista em baixa, queda nas exportações por causa da crise da vaca louca, entre outros fatores, seria incoerente acreditar em grande número de pecuaristas com bois confinados especulando preços com seus custos aumentando.
Mercado e preços
No final de 2000 e início de 2001, muitos tem se queixado sobre o preço dos animais de reposição, que seguem firme e elevados.
Na verdade, os preços variaram, em 2000 em relação 1999, nas mesmas proporções do boi gordo.
Dos animais de reposição, as categorias que mais aumentaram foram o garrote e o boi magro. O boi magro nelore em São Paulo chegou a valorizar cerca 23,2% em relação à 99, enquanto o boi gordo valorizou em média 19,3% comparando os mesmos períodos.
No mercado de insumos, os preços apresentaram variações positivas, na maioria dos casos, porém não tão significativas, como no ano anterior, com toda a alteração cambial.
Observe na tabela 2, a valorização dos preços médios no ano de 2000.
Tabela 2: Variação média nos preços no período
Em termos de custos, as operações mecanizadas, a mão de obra e os animais para reposição foram os itens que sofreram os maiores aumentos.
Considerando apenas a variação nominal dos preços, a impressão que se tem é que o desempenho da pecuária foi satisfatório com os preços aumentando acima dos componentes de custos de produção.
Porém, na verdade, tanto animais de reposição como a cotação da arroba do boi gordo apenas recuperaram o valor antigo em dólares.
A chiadeira corrente no final de 2000 foi por conta da valorização do boi gordo, que em relação a 1999 ocorreu no decorrer do primeiro semestre, enquanto a valorização dos animais de reposição se concentraram no segundo semestre.
Com relação aos animais de reposição, há de se considerar ainda o levantamento das barreiras contra a febre aftosa, que separaram as principais regiões produtoras de animais para reposição dos principais consumidores de bezerros.
Muito se cogitou e ainda está nos planos do pecuarista que recria e engorda, iniciar a cria, buscando fazer integralmente ou parcialmente o ciclo completo. Se tal estratégia é válida ou não economicamente dependerá de vários outros fatores característicos da região, da propriedade e do próprio produtor, e não apenas do preço dos animais.
Todas as alterações econômicas e sanitárias e fatores climáticos no Brasil acabam também exercendo influência no ciclo pecuário, que teoricamente já deveria estar entrando na fase de baixa, com fêmeas e animais de reposição desvalorizando-se.
Em termos de custos, observe na tabela 3 a variação e os aumentos nos custos de produção de volumosos durante ano de 2000.
Tabela 3: Variação nos custos de produção de volumoso
Em média, o aumento nos custos em relação ao ano de 1999, foi de 3,75% ao ano.
Essa diferença será sentida este ano pelo pecuarista, uma vez que em 2000 o produtor sentiu o aumento de custos ocorrido em 1999, conforme já comentado anteriormente.
Final da Parte 1.
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