Como sempre ocorre, os números sobre a quantidade de animais confinados são controversos e imprecisos.
No entanto, tomando como base o pico de preços, de certa maneira inesperado no ano passado, é de se esperar que o produtor esteja tentando confinar maior número de animais este ano, desde que tenha condições para tal.
Um indício do aumento da intenção de confinar foi a lotação dos confinamentos por aluguel no final de maio e início de junho.
Porém, o aumento do número de bois confinados este ano não pode ser tomado por base apenas pelos confinamentos de aluguel, um mercado restrito ainda a poucas regiões.
Não se planeja um confinamento de um ano para o outro, sem prévio investimento em produção de forragens, instalações e animais.
Dieta do confinamento
No ano passado, devido ao aumento dos custos dos concentrados em época não comum, o confinador amargou um aumento de 16% no custo da dieta ao longo do confinamento.
Este ano, muitos planejaram fechar as compras de todos os ingredientes da dieta no início do confinamento do primeiro lote.
Porém, a dificuldade em se obter concentrados tem sido a marca registrada neste ano.
A indústria da laranja começou a safra tardiamente, atrasando a colocação da polpa cítrica no mercado. Outros alimentos concentrados sofreram elevações de preços proibitivas, comprometendo os resultados financeiros este ano, como milho, farelo de soja e mesmo os farelos de algodão, apesar de acabarem compondo parte das dietas.
Em boa parte, os confinamentos deste ano basearam-se no farelo proteinoso de milho (refinazil ou promil), polpa cítrica peletizada e caroço de algodão, cujos preços tornaram-nos mais atraentes.
Evidentemente entram ainda a uréia, sulfato de amônio, aditivos e suplemento mineral.
Estimativas de custos
Como é de conhecimento de grande parte dos pecuaristas, o confinamento é uma técnica eficientemente empregada para terminação de boiadas.
O produtor confina seus animais, buscando fechá-lo o mais pesado possível, acima dos 400 kg. A técnica permite pequena lucratividade nas arrobas engordadas no confinamento, pois quanto mais pesado o animal, maior a demanda energética para ganho de peso. No entanto, o produtor ganha nas arrobas já obtidas, carregadas a um custo baixo.
O confinamento permite também aliviar as pastagens com a retirada dos animais para os currais.
Nas tabelas de 1 a 4, seguem os custos de alimentação com dietas a base de silagens de capim, milho, sorgo e cana de açúcar picada.
Nas simulações estão sendo considerados a atividade do confinador que compra o boi magro (340 kg) e o engorda até aproximadamente 480 kg.
De acordo com os custos acima, o pecuarista teria, a preços atuais, uma lucratividade de 6,4% a 8% para vendas a vista e a prazo, respectivamente.
O que esperar para os próximos meses?
Expectativa de preços
Apesar da impossibilidade de se prever com pequena margem de erro os preços da arroba para os próximos meses, pode-se apostar com base nos anos anteriores e nas apostas futuras na BM&F.
Nos últimos 30 anos, os preços médios da arroba do boi gordo foram 12,3% superiores no segundo semestre em relação ao primeiro semestre.
Porém, nos últimos anos a diferença de preços de entressafra e safra tem-se reduzido. Quando a analise cobre dez anos atrás, essa diferença de preços cai para 5,86% e nos últimos cinco anos, a média de preços no segundo semestre é 4,10% superior à média do primeiro semestre. Em 1999, no entanto, essa diferença foi de 11,5%, considerando valores deflacionados.
Com relação às apostas futuras na BM&F, a média total dos valores para a arroba bovina até o final do ano estão apresentadas na tabela 6.
No mês de julho próximo passado, o preço médio da arroba do boi gordo a prazo foi de R$40,81. Desde outubro de 99 até junho de 2000, a média das apostas futuras para o valor da arroba a prazo em julho foi de R$40,76, portanto valores bem próximos ao observado no mercado físico.
Porém, apesar da proximidade, ao longo de todo este tempo, os valores médios mensais das apostas futuras variaram de R$39,21 até R$42,76, sendo este último o valor médio de apostas futuras na BM&F observada durante o mês de junho de 2000. Isso mostra que a proximidade do valor está mais relacionado a uma coincidência do que um acerto nas previsões dos operadores na bolsa.
As oscilações relacionam-se com o mercado físico do boi e todas suas interações, mercado futuro de dólar e de taxas de inflação.
Passado e futuro
Para se ter um rumo, o valor médio da arroba bovina no primeiro semestre de 2000 foi de R$40,05 (deflacionado pelo IGP-DI).
Caso o preço da arroba na entressafra varie de acordo com a média dos últimos cinco e dez anos os preços médios no segundo semestre deverão ser de R$ 41,69 e R$42,39, respectivamente, com média mensal no mês de pico de R$46,69 a R$47,34, portanto, valores próximos aos das projeções baseadas nas apostas na BM&F para a @ em R$ a prazo.
Considerações finais
Considerando agosto e julho, os preços médios do segundo semestre já somam 3,02% acima do valor do primeiro semestre.
Se o comportamento de preços repetir o ano passado, o valor médio da arroba de julho a dezembro atingirá R$44,60 a prazo, com pico de R$49,40/@, preço elevado para a situação dos frigoríficos e do mercado de carne atual.
A quanto a arroba vai chegar depende naturalmente de vários fatores contra e pró o “estouro” de preços da arroba do boi gordo.
– Contra: Os frigoríficos vem trabalhando com margens muito apertadas e na maioria das vezes no prejuízo nos últimos meses. Certamente a pressão para segurar escaladas de preços será muito marcante; Grande parte dos produtores, animados com a alta do ano passado, estão segurando para vender em outubro, seja em confinamentos ou em semi confinamentos.
– Prós: A realidade das pastagens brasileiras e a dificuldade de se planejar um confinamento em poucos meses, dada as condições da pecuária no país, praticamente desmistificam a crença de que o pecuarista estaria retendo boi gordo. Na verdade estaria faltando animais.
Como é cada vez mais evidente a escassez de boi pronto no mercado, a variação de preços fica na dependência do consumidor final e da rede varejista.
Cabe a pergunta: – O consumidor absorverá os aumentos esperados pelos pecuaristas? Só o tempo dirá.
De qualquer maneira que se analise a situação porém, o cenário é favorável ao confinador. Seria preciso haver uma reviravolta artificial no mercado para alterar a tendência de bons resultados no confinamento de 2000.