Já há algum tempo se comenta a exigência de nossos clientes europeus quanto ao rastreamento por que deverão passar as carnes cujo destino seja a União Européia.
O conceito de rastreamento que se discute e que deverá ser adotado se baseia num regulamento da União Européia de abril de 97 que diz:
– Os animais deverão estar identificados por brincos ou marcas auriculares
– A base de dados com todas as informações deverá estar informatizada.
– Os animais deverão ter um dossiê, um documento que funcione como passaporte.
– Cada movimentação deverá ser registrada.
Os países exportadores que não pertencem à União européia, caso do Brasil, deverão desenvolver sistemas que sejan aceitos pela União, para poder fornecer carne para este conglomerado de países.
A idéia, a intenção é que a identificação e etiquetagem se estenda da rês à carne, que é o seu produto, e a cada um dos cortes posteriores. Porém, o que se tem assistido é a identificação até o estágio de carcaça .
O rastreamento do rebanho europeu é obrigatório segundo as regras da União Européia. Para os países fornecedores de carne, o prazo para apresentar um plano de rastreamento que atenda as exigências da União Européia vai até o ano 2002.
Os sistemas que cada país irá adotar não precisam ser necessáriamente iguais, mas precisam estar baseados nos fundamentos do regulamento 820/97, citado no início desta matéria, e precisam individualizar cada animal.
Mantidos esses prazos, a pecuária brasileira deverá se apressar para se adequar às exigências de nosso principal comprador de carne, sob pena de perder esse mercado para outros países produtores e capazes de implementar essa exigência de identificação e rastreamento de animais.
Problemas para rastrear
Evidentemente que sistematizar um progarma de rastreamento não é simples, nem barato.
Será necessário a coordenação entre produtores, frigoríficos e o governo. Será necessário também o estabelecimento de um critério eficiente de informatização para a coisa funcionar.
Experiências vividas por outros países na implantação de um sistema de rastreamento indicam que o maior problema enfrentado tem sido a resistência e o descrédito com relação ao assunto, pelos pecuaristas. A resistência em obedecer as orientações e normas do governo e o descrédito em acreditar nas orientações dos técnicos tem sido a marca registrada (vide o caso da febre aftosa).
A implantação do sistema na Europa deve ter sido mais fácil em função da pequena quantidade de animais por propriedade. Diferente do Brasil, com propriedades extensas e produção em grande escala.
Um outro aspecto que deve ser considerado é que apenas uma pequena parte do rebanho brasileiro se destina à exportação (algo em torno de 6% do produzido) e dessa parte nem toda carne tem como destino a União Européia.
Acontece também, que os animais cuja carne é dirigida para a exportação não são criados separadamente daqueles destinados ao mercado interno.
Na verdade, a carne bovina exportada é colhida em todo o rebanho brasileiro, desde que atendam às exigências determinadas pelos compradores. Ou seja, um programa de rastreamento na situação atual, deveria cobrir toda a população bovina, o que certamente ficaria extremamente caro e mesmo superfluo.
Não existe essa preocupação de se saber a origem da carne e nem do passeio que ela dá quando se trata da carne consumida internamente no Brasil. Mesmo sem rastrear sua origem pode-se dizer que a carne brasileira é saudável, desde que sob o sistema de fiscalizão federal – SIF.
Porque o rastreamento individualizado
Provavelmente essa neurose a respeito de saber qual a origem da carne que está sendo consumida, surgiu depois do aparecimento da doença da vaca louca, na Europa.
A União Européia, os comerciantes de carne, tentam não perder consumidores, certificando e garantindo que o produto comercializado é saudável e de origem conhecida e sob total controle, aliás como acontece com a carne de frango.
Embora certamente a doença da vaca louca tenha sido o estopim para que se pensasse numa solução para evitar a debandada geral, o rastreamento da carne permitirá o monitoramento e a não transmissão de outras moléstias veiculadas pela carne, pelo menos é o que se pretende.
E vale a pena bancar um programa de rastreamento ? – Achamos que sim, pois se as exportações brasileiras de carne não são grandes o suficiente para alavancar o preço da carne, tem servido para sustentar as cotações no mercado interno, num ambiente onde o poder aquisitivo do consumidor está arrochado. Se o Brasil perder esse mercado, certamente quem vai pagar a conta será o elo mais fraco da cadeia, o pecuarista, que acabará recebendo menos por arroba.
Sugestão
– Quanto vai custar esse programa, tão minucioso e que identifica animal por animal?
* A pergunta por ora está sem resposta, mas ousa-se dar uma sugestão.
Em vez de se identificar o animal, a rês, por que não se identificar o produtor, que aliás está identificado de diversas maneiras, via cpf, inscrição de produtor, documento de identidade, inss, carteira de motorista, CGC, etc e etc.
Seria muito mais fácil e operacional saber da origem por unidade produtiva, por fazenda.
O rastreamento seria feito de maneira coletiva no que diz respeito ao rebanho e à região produtora e individualizada em relação ao pecuarista e ao frigorífico que executa o desmonte.
Quer dizer que a solução para que o Brasil se adeque às normas da União Européia é muito mais uma questão de política e menos técnica e deve ser tratada a partir de agora, pois este é mais um problema a ser reesolvido além da febre aftosa, para perenizarmos os mercados para a carne bovina brasileira.
Bibliografia consultada : Notícias em los mercado de la carne – agosto de 2000
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Se tivessem ouvido o Scot ao invés daquela turma toda com suas agendas ocultas…