Ivan Borba Formigoni1
Na década de 80, quando os europeus começaram a falar de uma certa “doença da vaca louca”, a expressão poderia parecer uma piada, mas logo o assunto se transformou em coisa séria.
O pânico começou a se espalhar na Europa em 1985, quando o rebanho bovino inglês passou a apresentar um comportamento esquisito, com os animais mais agressivos e suas patas não suportando o peso do próprio corpo.
A suspeita é de que as vacas apresentaram esses sintomas após ingerir ração contendo restos de ossos e miúdos supostamente de ovelhas doentes, infectadas com príons.
No entanto, por ignorância do problema, o gado contaminado com esse príon anormal foi abatido e consumido pelo homem.
OS PRIONS
Stanley Prusiner, Prêmio Nobel em 1997, descobriu uma nova classe de agentes infecciosos formada apenas de proteínas e responsáveis por algumas desordens degenerativas do sistema nervoso central em animais e humanos.
Esses agentes ou moléculas, chamados de príons, se multiplicam convertendo proteínas normais em nocivas.
Em outras palavras, vírus, bactérias e fungos usam moléculas de DNA ou RNA para se multiplicar dentro dos organismos, enquanto os príons fazem cópias deles mesmos sem ajuda do material genético, induzindo as proteínas normais a adotar a sua conformação defeituosa.
Uma peculiaridade bastante importante do príon se refere à resistência a produtos químicos e à alta temperatura, o que facilita sua transmissão.
A DOENÇA DA VACA LOUCA
Do aparelho digestivo, o príon defeituoso cai na circulação e se instala nos nervos.
A partir daí os príons anormais se ligam aos normais que, com o contato, adquirem a forma patológica.
São três as variantes da doença já conhecidas pela Medicina:
ENCEFALOPATIA ESPONGIFORME BOVINA (BSE)
É a forma da doença que ataca o gado bovino.
O primeiro sinal nos animais afetados é uma espécie de nervosismo.
Evolui para um quadro de deterioração motora, seguido de morte num período que pode ir de um a seis meses.
A contaminação acontece quando o animal ingere ração à base de proteína de origem animal contaminada pelo príon.
Há casos comprovados de transmissão da mãe para terneiros durante a gestação.
SCRAPIE
Conhecida também como tremedeira, é a denominação que se dá a encefalopatia espongiforme nas ovelhas.
A doença foi relatada pela primeira vez há mais de 200 anos, no Reino Unido.
Acreditava-se que esta teria sido a origem da contaminação bovina, já que na Europa é comum a utilização da farinha de vísceras e ossos de outros animais como complementação alimentar oferecida às vacas leiteiras.
Hoje, a hipótese mais aceita afirma que a proteína defeituosa já existe no organismo dos bovinos em pequena quantidade.
A farinha de restos de outros bovinos é que potencializaria a multiplicação dos príons.
DOENÇA DE CREUTZFELDT-JAKOBS (CJD)
É o nome da doença nos seres humanos, transmitida pela carne bovina contaminada.
Depressão e ansiedade são os primeiros sintomas.
Num segundo momento, a pessoa contaminada perde peso, memória, coordenação motora e visão.
No estágio terminal, ocorre a perda da fala e o corpo se torna rígido.
Geralmente a CJD leva o paciente à morte em cerca de 13 meses.
O mal atinge principalmente idosos devido ao longo período de incubação da doença, que pode ficar até 30 anos sem se manifestar.
A nova variedade, verificada na Inglaterra a partir dos anos 80, tem período de incubação mais curto e atinge indivíduos mais jovens.
Estudos médicos demonstram que a doença de Creutzfeldt-Jakob ocorre espontaneamente em uma a cada 1 milhão de pessoas.
Na Europa, 87 pessoas já morreram vítimas da doença.
A VACA LOUCA E OS SERES HUMANOS
A doença (CDJ) pode ser transmitida ao Homem especialmente quando do consumo de materiais provenientes do sistema nervoso central dos animais, ou seja, dos chamados miúdos, incluindo ossos com medula.
Assim, acredita-se que os casos de “vaca louca” em humanos diagnosticada na Inglaterra nos anos 80 se originaram do consumo de miúdos na forma de embutidos, como patês, salsichas entre outros, quando não se tinha informação suficiente sobre os riscos de contaminação.
No entanto, ao contrário do que muitos podem pensar, na musculatura do animal, ou seja, na carne propriamente dita nunca se encontrou a presença do agente causador da doença, o que faz acreditar que nenhum dos casos até hoje conhecidos vem do consumo da carne bovina propriamente dita e sim dos subprodutos comumente aproveitados pela indústria.
A maioria das pessoas com CJD têm entre 50 e 70 anos de idade.
A doença é rara em pessoas com menos de 35 anos, não havendo tratamento para os portadores.
A doença é sempre fatal.
O HISTÓRICO DO MAL DA VACA LOUCA
Para resumirmos fatos que marcaram a trajetória da doença segue tabela 1.
AS ÚLTIMAS DESCOBERTAS.
Recentemente, pesquisadores europeus divulgaram os primeiros resultados sobre a eficácia de um exame capaz de detectar em quatro horas se o gado está contaminado. Antes, portanto, de o mal poder atingir o Homem.
Além disso, a agência responsável pela regulamentação de alimentos da Grã-Bretanha promete investigar se a moléstia pode ser transmitida pelo leite e
seus derivados.
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1Zootecnista pela fzea_usp e mestrando em zootecnia
Bolsista da fapesp
Menbro da equipe de colaboradores da Scot Consultoria